A educação das relações étnico-raciais uma proposta teórico-metodológica para a desconstrução de estereótipos na educação em Ciências e Biologia

Conteúdo do artigo principal

Douglas Verrangia

Resumo

Vimos, há alguns anos, analisando e produzindo propostas no intuito de que a educação em Ciências assuma seu papel como parte de um processo mais amplo, de educação para humanização, contribuindo para a educação de relações étnico-raciais positivas, justas e compromissadas com a erradicação do racismo em nossa sociedade. Revisando a literatura na área, identificamos que, nos últimos 10 anos, há um avanço significativo nesse contexto, surgindo muitas propostas na interface entre educação em Ciências e combate ao racismo. Porém, em nossa visão, muitas dessas propostas acabam por desconsiderar uma compreensão mais profunda sobre o conceito de Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER), que consideramos um marco teórico-metodológico para a (re)construção do pensar pedagógico em países pluriétnicos e multiculturais como o nosso. Nessa concepção, o papel, por exemplo, da educação em Ciências para a (re)educação de relações étnico-raciais fica restrito à discussão de algumas temáticas, como o racismo científico, a eugenia moderna, a evolução humana, entre outros. Dessa forma, a fim de contribuir para ampliar a reflexão conceitual acerca das possibilidades e desafios impostos à educação em Ciências pela ERER, apresentamos um modelo conceitual desenvolvido a partir das contribuições de Mwalimu Shujaa e que vem sendo utilizado e revisado em práticas na formação inicial e continuada de professores nos últimos 15 anos. O intuito do modelo é articular uma perspectiva teórico-metodológica da ERER, focada na elaboração de atividades pedagógicas que visem combater estereótipos, neste caso, em meio a conteúdos ligados às Ciências Naturais e Biologia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
Verrangia, D. . (2022). A educação das relações étnico-raciais: uma proposta teórico-metodológica para a desconstrução de estereótipos na educação em Ciências e Biologia. Revista De Ensino De Biologia Da SBEnBio, 15(nesp.2), 492–512. https://doi.org/10.46667/renbio.v15inesp2.782
Seção
Dossiê Temático - Relações Étnico-raciais e o Ensino de Biologia
Biografia do Autor

Douglas Verrangia, Universidade Federal de São Carlos

Doutor em Educação  - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). São Carlos, SP - Brasil. Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). São Carlos, SP - Brasil.

Referências

ARAÚJO, Emanoel. Arte, Adorno, Design e Tecnologia no Tempo da Escravidão. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2013. 406p.

BANKS, James A. Multicultural Education, Transformative Knowledge, and Action: Historical and Contemporary Perspectives. New York: Teachers College Press, 1996.

BONDIA-LAROSSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Leituras SME. Textos-subsídios ao trabalho pedagógico das unidades da rede municipal de Campinas/FUMEC, n. 4, julho, 2001.

BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9394.htm> Acesso em: 06 mai. 2022.

BRASIL. Parecer CNE/CP n.º 3, de 10 de março de 2004: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Conselho Nacional de Educação, Ministério da Educação, Brasília. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf>. Acesso em: 06 mai. 2007.

CASTRO, M. A. T.; VERRANGIA, Douglas. As Relações Étnico-Raciais e o Ensino de Evolução Humana na disciplina Projeto Integrado de Biologia. Revista Compartilhar, v. 4, p. 94-97, 2019.

CHADAREVIAN, Pedro C. Para medir as desigualdades raciais no mercado de trabalho. Brazil J. Polit. Econ., 31(2), 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rep/a/kYG4p3Yb7YdSGzZgqXkjsWw/?lang=pt. Acesso em: 30 de maio de 2022.

CUNHA, L. (s/d). Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal. Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/?p=1684. Acesso em: 20 set. 2014.

FADIGAS, Mateus D. (2016). Racismo científico como plataforma para compreensão crítica das relações CTS: Um estudo do desenvolvimento de uma sequência didática. Anais eletrônicos do 15º Seminário Nacional da História da Ciência e da Tecnologia, Florianópolis, Santa Catarina. Acesso em: http://www.15snhct.sbhc.org.br/site/anaiscomplementares

FERNANDES, Kelly Meneses. Biologia, Educação das Relações Étnico-Raciais e Inversão Epistemológica. Revista Interinstitucional Artes de Educar, v. 01, p. 311-323, 2015.

FISHER, Mark. Realismo Capitalista. ¿No hay alternativa? Buenos Aires: Caja Negra, 2016.

GILL, D.; LEVIDOW, L. General introduction. In: GILL, D.; LEVIDOW, L. (Orgs.) Anti-racist science teaching. Londres: Free association books.1989, p. 01-11.

GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan/Abr, 2012.

GROSFOGUEL, R. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: Transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, p. 115-147, 2008. Disponível em: <https://journals.openedition.org/rccs/697>. Acesso em: 15 set. 2016.

JOHNSON-LAIRD, P.N. Mental Models (Harvard University Press, Cambridge, 1983), 513 p.

KNELLER, G.F. A ciência como atividade humana. RJ/SP, Zahar/EDUSP:1980

MACHADO, C. E. D.; LORAS, A. B. Gênios da humanidade: ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. Carlos Eduardo Dias Machado; Alexandra Baldeh Loras – São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2017.

MBEMBE, A. Necropolítica: biopoder, soberania, Estado de exceção, política da morte. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, p. 123-151, 2016. Disponível em: https://www.procomum.org/wp-content/uploads/2019/04/necropolitica.pdf Acesso em: 3 ago. 2020.

OLIVEIRA, Iolanda. Racismo no Brasil, Apresentação, p. 17-43, ABONG, São Paulo: Peirópolis.

PAIXÃO, M.; ROSSETTO, I; MONTOVANELE, F; CARVANO, L.M. Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil, 2009-2010: Constituição Cidadã, seguridade social e seus efeitos sobre as assimetrias de cor ou raça [Internet]. Rio de Janeiro: Garamond; 2011 [citado 2014 mar. 14]. Disponível em: http://www.laeser.ie.ufrj.br/PT/relatorios%20pdf/Relat%C3%B3rio_2009-2010.pdf

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1978.

PAVIANI, Jayme. Merleau-Ponty: A fenomenologia e as ciências do homem. Pesquisa em serviço social, Porto Alegre, p. 23-42, 1989.

PORTO-GONÇALVES, C. W. Apresentação da Edição em Português. In: Lander, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: Perspectivas latino americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, set. 2005.

QUIJANO, A. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In: SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. (Org.). Epistemologias do Sul. Coimbra. 2009. p. 73-117.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires, Argentina: CLACSO, 2005. p. 117-142. Disponível em: <http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf>. Acesso em: 15 out. 2019.

Santos (1998)

SCHUCMAN, L. V. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Psicologia). São Paulo: USP – Universidade de São Paulo, 2012 (160 p.).

SEYFERTH, Giralda O beneplácito da desigualdade: breve digressão sobre racismo. In: OLIVEIRA, Iolanda (et al.) Racismo no Brasil, p. 17-43, ABONG, São Paulo: Peirópolis, 2002.

SHUJAA, M. Too much schooling, too little education: A paradox of Black life in White societies. Trenton NJ: Africa World Press, 1994.

SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições escolares. Educ. rev. [online]. 2018, vol.34, n.69, pp.123-150.

SILVERIO, Florença Freitas; VERRANGIA, Douglas. O cientista é um homem branco ocidental: Uma análise de livros didáticos de Biologia. Abatirá: Revista de Ciências Humanas e Linguagens, v. 02, p. 332-360, 2021.

TEIXEIRA, Pedro; OLIVEIRA, Roberto Dalmo; QUEIROZ, Gloria Regina Pessoa. Conteúdos Cordiais: Biologia Humanizada para uma Escola sem Mordaça. Editora livraria da Física. Páginas 188, Edição 1A. ED. 2019.

VERRANGIA, 2009. A educação das relações étnico-raciais no ensino de ciências: diálogos possíveis entre Brasil e Estados Unidos. Tese de Doutorado em Educação. Departamento de Metodologia de Ensino, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.

VERRANGIA, Douglas. Educação científica e diversidade étnico-racial: o ensino e a pesquisa em foco. Interacções, v. 10, p. 02-27, 2014.

VERRANGIA, Douglas; Silva, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Cidadania, relações étnico-raciais e educação: desafios e potencialidades do ensino de ciências. Educação e Pesquisa (USP. Impresso), v. 36, p. 705-718, 2010.

WALSH, Catherine. Interculturalidad y colonialidad del poder. Un pensamiento y posicionamiento 'otro' desde la diferencia colonial". In: WALSH, C.; LINERA, A. G.; MIGNOLO, W. Interculturalidad, descolonización del estado y del conocimiento. Buenos Aires: Del Signo, 2006. p. 21-70.

WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial: insurgir, re-existir e re-viver. In. CANDAU, V. M. (Org.). Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009. p. 12-43.

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.