Dossiê: Ensino de Biologia diante do Antropoceno: fabulando respostas, experimentando caminhos
Chamada para publicação no v. 18, nesp 1, nov. 2025 – Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio
Prazo para envio: até 31 de julho de 2025.
O presente tem se mostrado marcado por mudanças climáticas e emergências ambientais. Presenciamos, diante de nossos olhos, aquele "futuro" do qual ouvíamos falar nos discursos ambientalistas do século XX. Aquele tempo projetado longe do presente, que, pretensamente, se tentaria impedir que surpreendesse as “gerações futuras”, nos surpreende agora. Enchentes nunca vistas, muita fumaça no céu das cidades, pandemias, secas, medo… Tudo parece acontecer rápida e intensamente. Poderíamos, inspirados em Anna Tsing (2019), dizer que habitamos um mundo em que se proliferam ruínas, em um estado global de precariedade. Essas ruínas, como sugere Paul Preciado (2023), são melhores que o capitalismo, que o patriarcado e que os regimes de exploração do mundo, pois são o que temos, são o nosso lar. Esse tempo, esse presente turbulento, vem recebendo inúmeros nomes para destacar o problema com o qual temos que lidar, com o qual temos que ficar (Haraway, 2023): Antropoceno, Capitaloceno, Plantationceno, Cena da Supremacia Branca… Nomes que se encadeiam na tentativa de situar as forças destrutivas de um mundo habitável.
Ao situarmo-nos perante este cenário de um regime colonial capitalístico (Rolnik, 2018), sentimos que o fim do mundo está próximo. Realmente muitas existências estão em perigo, mas cair em fatalismos e alimentar a sensação de que nada é possível de ser feito não pode nos paralisar e aniquilar qualquer possibilidade de agência coletiva? Donna Haraway (2023), por exemplo, nos ensina a importância de cultivarmos habilidades de responder a convivências com os outros seres: habilidades responsivas multiespécies, cuidados coletivos que acontecem em emaranhados complexos e situados em tempos, espaços e encontros específicos. Quando pensamos nisso, algumas perguntas podem ser mobilizadas: como educadores e educadoras em ciências e biologia, professores e professoras, formadores e formadoras, pesquisadores e pesquisadoras tomam parte desta conversa para além e aquém do humano? Como ensinar e aprender biologia abre fissuras para catalisar fabulações que ensaiem essas respostas, para cultivar o cuidado e experimentar caminhos? Como convocar estudantes e professores e professoras da educação básica e superior junto de comunidades a negociar e inventar coexistências com os seres mais que humanos em um mundo comum?
Essas perguntas inspiram a chamada para este dossiê, que transborda o desejo de constituir um arquivo de experimentos e pesquisas em Ensino de Biologia diante do Antropoceno. Desejamos, assim, convocar trabalhos que pensem, fabulem, vivam, sinta, experimentem alianças carnais, terrestres, mundanas. Que ensejem trajetos possíveis em meio às ruínas. Que confluam saberes, em começos, meios e outros começos – como nos ensina Antônio Bispo dos Santos (2023). Que construam paraquedas coloridos para adiar o fim do mundo – inspirados em Ailton Krenak (2019) – ou, quiçá, adiantar o fim de certos mundos que já não cabem mais, e germinar mundos de vida… com o ensino da vida!
Linhas temáticas:
- Experiências, reflexões e práticas em Ensino de Biologia e as relações com o Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno;
- Alianças entre o Ensino de Biologia e os estudos multiespécies;
- Matérias, materialismos, naturezas e o Ensino de Biologia;
- Artes do cuidado e Ensino de biologia;
- Cosmopolíticas, ecologias das práticas científicas e Ensino de Biologia;
- Cosmovisões, ancestralidade, confluências de saberes e alianças com o Ensino de Biologia;
- Fabulação, especulação, imaginação e limites da crítica na pesquisa em Ensino de Biologia
- Encontros inter/transdisciplinares com artes, filosofias, antropologias no Ensino de Biologia;
- Ontologias múltiplas, conflitos ontológicos e os coletivos ameríndios, afrodiaspóricos, feministas no Ensino de Biologia;
- Ensino de Biologia diante do novo regime climático, fins de mundo e eventos extremos.
Referências:
HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no Chthluceno. São Paulo: n-1 edições. 2023.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
PRECIADO, Paul B. Dysphoria mundi: o som do mundo desmoronando. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2023.
ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição: notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: N-1 Edições, 2018.
SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas, 2019.
Organizadores/a:
Thiago Ranniery Moreira de Oliveira (UFRJ)
Tiago Amaral Sales (UFU)
Shaula Maíra Vicentini de Sampaio (UFF)
Sandro Prado Santos (UFU – Editor da REnBio)