NAS ASAS DO MOSQUITO
Main Article Content
Abstract
Este ensaio é um experimento de pensamento sobre ensino de biologia expandido. Conjugando de maneira irregular estudos multiespécies, crítica queer, pensamento negro radical e pós-humanos, seu argumento percorre um fio é duplo. Por um lado, é um exercício de interrogar como a fricção ecológica é engolfada em termos de guerra multiespécie diante do enquadramento das políticas de combate ao “mosquito” Aedes aegypti pela linguagem da segurança pública em práticas escolares. De outro, a escrita trabalha para escavar a queeridade – por assim dizer – desses insetos alados nessas práticas que permanece, entretanto, abandonada pelo ensino de biologia, urgentemente necessitado de uma teoria mais impura da reprodução sexual. Ao cruzar entre essas duas linhas, buscamos mostrar que, pelas bordas da gramática militar da guerra, os entrelaçamentos íntimos florescem; entrelaçamentos que (de)compõem corpos nos ambientes compartilhados e quimicamente arruinados do império colonial e suas as ecologias aberrantes para as quais fomos arrastados.
Downloads
Article Details

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Aviso de Direito Autoral Creative Commons
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
References
ALMEIDA, Mauro. Caipora e outros conflitos ontológicos. São Paulo: Ubu Editora, 2021.
AHMED, Sara. Orientations: Toward a Queer Phenomenology. GLQ, v. 12, n. 4, p. 543-574, 2006.
AHUJA, Neel. Bioinsecurities: Disease Interventions, Empire, and the Government of Species. Durham: Duke University Press, 2016.
AHUJA, Neel. Intimate Atmospheres: Queer Theory in a Time of Extinctions. GLQ, v. 21, n. 2-3 p. 365–385, 2015.
ANCHIETA, Padre José. Carta de São Vicente. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 1997. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/13D00145.pdf. Acesso em agosto de 2025.
AGAMBEM, Giorgio. Stasis: a guerra civil como paradigma político. São Paulo: Boitempo Editorial, 2025.
ALLIEZ, Eric; LAZZARATO, Maurizio. Guerras e capital. São Paulo: Ubu Editora, 2021.
BERSANI, Leo. Is the Rectum a Grave?. October, v. 43, p. 197-222, 1987.
BEISEL, Uli. Jumping Hurdles with mosquitoes?. EPD: Society and Space, v. 28, n. 1m p. 46–49, 2010.
BEISEL, Uli. Markets and Mutations: mosquito Nets and the Politics of Disentanglement in Global Health. Geoforum, n. 66, p.146-155, 2015.
BEISEL, Uli, WERGIN Carten. Understanding multispecies mobilities: From mosquito eradication to coexistence. In: HALL, Marcos, TAMÏR Dan. (orgs). Mosquitopia: The Place of Pests in a Healthy World. New York: Routledge; 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK585175/. Acesso em: julho de 2025
BENCHIMOL, Jaime. Dos micróbios aos mosquitos: Febre Amarela e a Revolução Pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Editora UFRJ, 1999.
BERLANT, Lauren. Slow Death (Sovereignty, Obesity, Lateral Agency). Critical Inquiry, v. 33, n.4, p. 754-780, 2007.
BIRTLES, Philip. Mosquito Fighter Squadrons in Focus. Nova York: Red Kite, 2005.
BUTLER, Judith. Corpos que importam: sobre os limites discursivos do sexo. São Paulo: n-1 edições, 2019.
BUTLER, Octavia. Despertar. São Paulo: Editora Morro Branco, 2018.
BRYANT, Levi. Wilderness Ontology. In: JEFFERY, Celina. (org). Preternatural. Nova York: Punctum, 2011.p.25-38.
CARLSON, John; CAREY, Alison. Scent of a Human. Scientific American, p. 76-79, 2011.
CHAKRABARTY, Dispesh. O clima da história: quatro teses. Sopro, n. 91, p. 1-21, 2013.
CHAVES, Silvane; MACEDO, Elizabeth. Racismo e reivindicação de reconhecimento na experiência curricular. Cadernos de Pesquisa. v. 54, e11354, 2024.
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
COMITÉ INVISÍVEL. Aos nossos amigos: crise e insurreição. São Paulo: n-1 edições, 2015.
CORNISH, Paul. Machine guns and the Great War. Barnsley: Pen and Sword Military, 2009.
CHAMAYOU, Grégoire. Caças ao homem. São Paulo: Crocodilo Edições, 2025.
DEAN, Tim. An unlimited intimacy of the air: Pandemic fantasy, COVID-19 and the biopolitics of respiration. In: GARCÍA-IGLESIAS, Jaime; NAGINGTON, Maurice; AGGLETON, Peter. Viral Times: Reflections on the COVID-19 and HIV Pandemics. Nova York: Routledge, 2024.
DELEUZE, Gilles. Desejo e Prazer. In: LAPOUJADE, David. (org). Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: Ed. 34, 2016. p. 127-138.
DELEUZE, Gilles. Quanto a você? Que são suas máquinas desejantes: In: LAPOUJADE, David. (org). A ilha deserta: e outros textos. São Paulo: Iluminuras, 2006. p. 307-308.
DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2000.
DELEUZE, Gilles. A dobra: Leibniz e o barroco. São Paulo: Papirus, 1991.
DEKKER, Teun; GREER, Martin; CARDÉ, Ring. Carbon Dioxide Instantly Sensitizes Female Yellow Fever mosquitoes to Human Skin Odors. Journal of Experimental Biology, n. 208, p. 2963-2972, 2005.
DEKKER, Teun; CARDÉ, Ring. Moment-to-moment flight manoeuvres of the female yellow fever “mosquito” (Aedes aegypti L.) in response to plumes of carbon dioxide and human skin odour. Journal of Experimental Biology, n. 214, jeb.055186. 2011.
DORMONT, L., BESSIÈRE, J.-M. & COHUET, A. Human skin volatiles: a review. Journal of Chemical Ecology, n. 39, p. 569–578, 2013.
DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
FANON, Franz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2022.
FANON, Franz. Pele negras, máscaras brancas. Salvador: EdUFBA, 2008.
FERREIRA, Márcia Serra. Curriculum History as History of the Present: between the alchemy of knowledge and the fabrication of subjects. In: ZHAO, Weili; POPKEWITZ, Thomas; AUTIO, Tero. (Org.). Epistemic Colonialism and the Transfer of Curriculum Knowledge across Borders: applying a historical lens to contest unilateral logics. New York: Routledge, 2022. p. 118-133.
FERREIRA, Márcia Serra. Currículo e cultura: diálogos com as disciplinas escolares Ciências e Biologia. In: MOREIRA, Antonio Flavio; CANDOU, Vera Maria. (orgs.). Currículos, disciplinas escolares e culturas. Petrópolis: Vozes, 2014. p. 185-213.
FERREIRA, Márcia Serra. A história da disciplina escolar Ciências no Colégio Pedro II (1960-1980). Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2005
FERREIRA DA SILVA, Denise. Homo modernus: para uma ideia global de raça. São Paulo: Cobogó, 2022.
FRECCERO, Carla. Carnivorous Virility; or, Becoming-Dog. Texto Social, v. 29, n. 106, p. 177-195, 2011.
GOMES, Jorge Felipe Marçal. Produções escolares de combate ao Aedes aegypti no YouTube: incursões em um arquivo racial curricular. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.
GOSINE, Andil. Reprodução não-branca e erotismo homossexual: atos queer contra a natureza. Revista Estudos Políticos, v. 13, n. 2, p. 358-389, 2024.
HACKING, Ian. Ontologia histórica. Porto Alegre: Unisinos, 2009.
HARAWAY, Donna. Quando as espécies se encontram. São Paulo: Ubu Editora, 2022.
HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no Chthluceno. São Paulo: n-1 edições, 2023.
HARAWAY, Donna. A reinvenção da natureza: símios, ciborgues e mulheres. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2023.
HUI, Yul. Cem anos de crise. São Paulo: n-edições, 2020. Disponível: https://n-1edicoes.org/pandemia-critica/pandemia-critica-059-cem-anos-de-crise/. Acesso em julho de 2025.
JAEHN, Lisete; FERREIRA, Márcia Serra. Perspectivas para uma História do Currículo: as contribuições de Ivor Goodson e Thomas Popkewitz. Currículo sem Fronteiras, v. 12, p. 256-272, 2012.
KEELING, Kara. The Witch’s Flight: The Cinematic, the Black Femme, and the Image of Common Sense. Durham: Duke University Press, 2007.
KHANNA, Neetu. The visceral logics of decolonization. Durham: Duke University Press, 2020.
KINKELA, David. DDT and the American Century: Global Health, Environmental Politics, and the Pesticide That Changed the World. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2011.
KIRKSEY, Eben. Emergent ecologies. Durham: Duke University Press, 2015.
KOHN, Eduardo. How forests think: toward an anthropology beyond the human. University of California Press, Berkeley, 2013.
LACEY, Emerson; RAY, Anandasankar; CARDÉ, Ring. Close encounters: contributions of carbon dioxide and human skin odour to finding and landing on a host in Aedes aegypti. Physiological Entomology, v. 39, n. 1, p.60-68, 2014.
LARROSA, Jorge. Esperando não se sabe o quê: sobre o ofício de professor. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
LATOUR, Bruno. The pasteurization of France. Havard: Harvard University Press, 1993.
LIMA, Fátima. A persistência e o tempo: escritos sobre raça, poder e racismo. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2024.
LOPES, Gabriel; REIS-CASTRO, Luísa. A Vector in the (Re)Making: A History of Aedes Aegypti as mosquitoes That Transmit Diseases in Brazil. In: LYNTERIS, Christos. Framing Animals as Epidemic Villains. London: Palgrave Macmillan, 2019. p. 147-175.
LOWY, Ilana. Vírus, mosquitos e Modernidade: a febre amarela no Brasil entre ciência e política. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.
LOWY, Ilana. Vírus, mosquitos e injustiça reprodutiva. São Paulo: Hucitec, 2024.
MAIA, Tullio. Cada um com sua luta: uma etnografia da relação entre sertanejos e mosquitos no alto sertão sergipano. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2018.
MAIA, Túllio. 2020. The Mosquito Struggle: Other-than-Vector Ecologies in a ‘Zika-Free’ Brazilian Sertão. Somatosphere - Series Histórias of Zika. http://somatosphere.net/2020/”mosquito”-struggle-zika.html/. Acesso em agosto de 2025.
MAGALHÃES, Rodrigo. A Erradicação do Aedes Aegypti: Febre Amarela, Fred Soper e Saúde Pública Nas Américas (1918-1968). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2016.
MARANDINO, Martha; SELLES, Sandra Escovedo; FERREIRA, Márcia Serra. Ensino de biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez,
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo editorial, 2010.
MASSUMI. Brian. O que os animais nos ensinam sobre política. São Paulo: n-1 edições, 2017.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2018.
MCBRIDE, Carolyn et al. Evolution of mosquito preference for humans linked to an odorant receptor. Nature, n. 515, p. 222–227, 2014.
McCLINTOCK, Anne. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. São Paulo: Editora Unicamp, 2010.
MCNEILL, J.R. Mosquito Empires: Ecology and War in the Greater Caribbean, 1620–1914.
MILTON, Kay. Loving Nature: Towards an Ecology of Emotion. Londres: Routledge, 2002.
MITCHELL, Timothy. Rule of Experts: Egypt, Techno-Politics, Modernity. Berkeley: The University of California Press, 2002.
NADING, Alex. Mosquito Trails: Ecology, Health, and the Politics of Entanglement. California: University of California Press, 2014.
NYONG’O, Tavia. Little Monsters: Race, Sovereignty, and Queer Inhumanism in Beasts of the Southern Wild. GLQ, v. 21, n. 2-3, p. 249–272, 2015.
POPKEWITZ, Thomas S. Lutando em defesa da alma: a política do ensino e a construção do professor. Porto Alegre: Artmed Editora Ltda, 2001.
PUAR, Jasbir. Agenciamentos terroristas: homonacionalismo em tempos queer. São Paulo: Crocodilo Edições; Campinas: Editora Unicamp, 2025.
RANNIERY, Thiago; TERRA, Nathalia. Abomináveis Amores entre Estranhos. Educação e Realidade, v. 48, e124090, 2023.
REINHARDT, Klaus. The Entomological Institute of the Waffen-SS: evidence for offensive biological warfare research in the third Reich. Endeavour, v. 37, n. 4, p. 220–227, 2013.
REIS-CASTRO, Luísa. Devir-sem: mosquitos transgênicos, controle de doenças e o valor de não encontro nas relações multiespécie. Novos Debates, v. 10, n. 1, e101005, 2024.
RUSSEL, Edmund. War and Nature: Fighting Humans and Insects with Chemicals from World War I to Silent Spring. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
SEGATA, Jean. O Aedes Aegypti e o Digital. Horizontes Antropológicos, v. 23, n. 48, p. 19-48, 2017.
STANLEY, Eric. Near life, queer death: overkill and ontological capture. Social Text, v. 29, n. 2, p. 1-19, 2011.
STEPAN, Nancy. Eradication: Ridding the World of Disease Forever. Ithaca: Cornell University Press, 2011.
STOLER, Anna Laura. Carnal Knowledge and Imperial Power: Race and the Intimate in Colonial Rule. Berkley: University of California Press, 2002.
TADEU, Tomaz. Nunca fomos humanos: nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
THEROUX, Paul. A costa do mosquito. São Paulo: Alfaguarra, 2009.
TSING, Anna. Margens Indomáveis: cogumelos como espécies companheiras. Ilha, v. 17, n. 1, p. 177-201, jan./jul. 2015.
TSING, Anna et al. (orgs). Feral atlas: the more-than-human Anthropocene. Stanford: Stanford University Press, 2020.
TSING, Anna. What is history? In: TSING, Anna; DEGER, Jennifr; SAXENA, Alder; ZHOU. Feifei. (orgs). Field Guide to the Patchy Anthropocene. Stanford: Stanford University Press, 2024. p. 145-166.
VAN DOOREN, Thom; KIRKSEY, Eben; MÜNSTER, Ursula. Estudos multiespécies: cultivando artes de atentividade. ClimaCom, v. 3, n. 7, p.39-66, 2016.
VERHULST, Neils et al. Do apes smell like humans? The role of skin bacteria and volatiles of primates in “mosquito” host selection. Journal of Experimental Biology, n. 221, jeb185959, 2018.
WOLF, Meike; HALL, Kevin. Asian Tiger Mosquitos as Undesirable Cross-Border Commuters: Invasive Species and the Regulation of (Bio-)Insecurities in Europe. Journal for European Ethnology and Cultural Analysis, v. 5, n. 1: 6, p. 64-76, 2020.
WIDDER, Nathan. Political Theory after Deleuze. Nova York: Continuum, 2012.
WILDERSON, Frank B. Afro-pessimismo. São Paulo: Todavia, 2020.
WINEGARD, Timothy. O mosquito: a incrível história do maior predador da humanidade. São Paulo: Intrínseca, 2022.
YAEGER, Patricia. Beasts of the Southern Wild and Dirty Ecology. Southern Spaces, 13 de fevereiro de 2013. Disponível em: https://southernspaces.org/2013/beasts-southern-wild-and-dirty-ecology/. Acesso em: agosto de 2025.
ZHAO, Zhilei, et al. Mosquito brains encode unique features of human odour to drive host seeking. Nature, n. 605, p. 706–712, 2022.