QUANDO A ESCOLA ESCUTA A FLORESTA CARVOARIA, ENSINO E JUSTIÇA AMBIENTAL NO ANTROPOCENO
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Resumo
Quais saberes emergem quando a escola escuta a floresta? Esta pergunta atravessa o texto como fio condutor. O artigo resulta de uma etnografia realizada em Matina, sertão baiano, onde a produção de carvão vegetal revela feridas ambientais, memórias silenciadas e práticas que resistem. A escola, ao acolher essas narrativas, transforma-se em espaço de elaboração e vínculo com o território. Inspirados por Tim Ingold, Vinciane Despret, Donna Haraway, Anna Tsing e Bruno Latour, os autores problematizam o ensino de Ciências como gesto de escuta e corresponsabilidade no Antropoceno. A carvoaria, como prática marcada pela subsistência e pela devastação, aparece no texto como operador relacional de saberes, práticas e conflitos, para pensar a justiça socioambiental e a reconfiguração dos laços entre humanos e mais-que-humanos. O carvoeiro é descrito como aquele que provoca outro modo de ensinar, situado, hesitante e ético. Ele torna o estranhamento diante das feridas do Antropoceno uma possibilidade pedagógica.
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